sábado, 5 de maio de 2012

A nova moda e o velho Gilles


Olá! O sumiço por aqui tem explicação, muito trabalho, o que é ótimo, não é mesmo! :) E depois de alguns dias afastada ou melhor, pouco presente, venho para trazer uma reflexão a você. Já parou para pensar que a moda, além de servir para nos vestir, de ser uma grande indústria rentável, de ser um meio de comunicação, é também uma maneira de se analisar a sociedade? Digo isso com base em um livro que li recentemente, O Império do Efêmero - A moda e seu destino nas sociedades modernas, de Gilles Lipovetsky. Confesso que a leitura é pesada e requer muita concentração, mas o que o autor propõe é uma bela reflexão sobre o impacto dessa "ferramenta" - chamada por ele de vestuário - em nossas vidas.

Há muitos e muitos anos, o vestuário servia apenas para vestir, como a própria palavra diz. As indumentárias de homens e mulheres se diferenciavam em alguns detalhes. Com o passar do tempo a sociedade evoluiu e as vestimentas acompanharam esse desenvolvimento. A partir daí, a moda se instalou na sociedade como um dispositivo inédito, onde o artificial redefinia as formas do vestuário. E o que seria esse artificial? Na visão de Lipovetsky, as influências sofridas ao longo do tempo com relação a formas, cores, texturas e adornos. Se na antiguidade a mulher usava apenas uma túnica e sandálias de couro, depois passou a revelar o corpo, encurtar a túnica, amarrá-la na cintura, enfeitar a pele e os cabelos, calçar sapatos e por aí vai...



E não é que começo a achar que o velho Gilles tem razão! Quem somos nós senão pessoas que se "fantasiam" para transmitir uma imagem que, muitas vezes, não condiz com o que realmente somos? A moda acabou criando uma sociedade que vive de aparências, onde cada um veste aquilo que deseja que o represente, mesmo que não tenha qualquer relação com o que, de fato, se é. Quantas mulheres e homens economizam meses para comprar uma bolsa caríssima ou aquele relógio de grife? "A emergência da moda fez mudar a significação social e as referências temporais, o vestuário da moda rompeu os elos com o passado", escreveu Lipovetsky, que ainda completou: "parte do seu prestígio vem do presente efêmero, cintilante, fantasista".

É impossível negar que a moda, essa estrutura fascinante que nos encanta ( e é por isso que trabalho com ela!), também serve para nos diferenciar, segregar e, por que não, nos isolar. Estão aí as tribos para confirmar. E mais, com o passar dos anos e o desenvolvimento do nosso vestuário, viramos grandes narcisistas preocupados com a própria imagem e bitolados em agradar aos olhos alheios. Se eu gosto de salto alto não importa, o que vale é que fica lindo e todo mundo vai me olhar! Ah, quantas mulheres pensam assim... A obra de Gilles Lipovetsky é antiga, mas nunca esteve tão atual!


Um beijo!





Fotos: Reprodução Garance Doré/ Street Peeper/ The Sartorialist

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